terça-feira, 5 de julho de 2011

...em delírio corri o mundo, refis meu caminho...





no começo da escrita não havia ponto ou vírgula o texto era um rio que corria sem que se pudesse perceber as correntes o sentido do texto era revelado por um leitor verdadeiro sacerdote que fazia a ligação entre o verbo da palavra e a carne do mundo lia quem sabia reconhecer as pausas a mensagem estava entre as palavras com o tempo criaram-se os sinais de pontuação .:?,!; para uniformizar o sentido já que diferentes intérpretes realizavam pausas também diferentes mas então veio a poesia e desfez o trabalho dos sinais na poesia cada palavra não diz apenas o que se quer dizer só pela poesia deus pode ser filho de deus e a poesia mesmo sem versos ou rimas inventou pausas nos textos e embaralhou as palavras e cada um lê como respira uns profunda e lentamente outros leve e saltitantemente tem poesia na bula de remédio altas doses e uso a longo prazo no cartaz pregado no poste seu amor de volta na fala da mulher suor lágrima e água do mar poesia está onde se pausa onde se pousa antes da continuação do vôo está em parar de bater as asas e deixar-se levar pelas correntes invisíveis do ar poesia não precisa ser longa para ser grande poesia poema não se lê se cria quando se pára para respirar palavra se esconde do olho na voz no gesto viver é assim mirar o rio pausar o rio sem que ele pare para respirar e pausar a si que mira o rio e nele adentrar ser corrente corrente corrente e abrir-se em sentidos quando alguém lhe pausar

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